RELATO DE UMA RELAÇÃO ABUSIVA COM UM NARCISISTA PERVERSO -



ALERTA . - Ele nunca gritou comigo. Jamais me agrediu fisicamente ou me ofendeu com palavras. Ele me torturava com seu silêncio, sua ausência e uma tristeza perene, quase sólida, pela qual eu me sentia responsável. Sua violência era muda e por isso mesmo tão difícil de identificar. E como ele não fazia “nada”, demorou para eu perceber e, principalmente, aceitar: aquela era uma relação abusiva. Ele era um narcisista perverso, um tipo altamente sofisticado de agressor. E eu era o seu alvo da vez.
Até aquele momento, eu não sabia que esse tipo coisa existia. Para mim, pessoas como ele eram apenas problemáticas, marcadas por experiências de vida dolorosas e que podiam ser curadas com uma boa dose de amor incondicional – que eu tinha de sobra, é claro. Se ele ainda não conseguia me amar da maneira que eu desejava, era só uma questão de tempo. Logo ele seria tocado pela minha ternura e teria sua couraça de guerreiro ferido derretida. Aprenderia com o meu exemplo de dedicação e entrega e voltaria a confiar em alguém. Finalmente, ele se renderia ao meu amor, ao nosso grande amor, e seríamos felizes para sempre-fim.
O que eu não sabia é que isso era impossível. E que tudo naquele universo de perversidade e perversão funcionava às avessas. Quanto mais eu demonstrava o meu amor, mais severamente ele me punia. Conforme eu alargava meus limites de tolerância e compreensão à sua dor, mais requintada se tornava sua violência silenciosa. Em vez de clássicas discussões e agressões, meu castigo eram mensagens não respondidas, sumiços e atrasos inexplicáveis, compromissos desmarcados em cima da hora. Ele me manipulava com seu estado de carência, tensão e melancolia sem fim.
Durante aqueles meses, eu perdi meu equilíbrio, meu brilho, minha saúde física e mental, minha vontade de viver. Eu estava devastada e ele, enfim, satisfeito. Seu objetivo estava alcançado: ele havia destruído aquilo que eu tinha de mais valioso e que ele tanto invejava secretamente: minha fé inabalável no amor. Aquela mulher radiante de beleza e alegria que ele conhecera havia desaparecido. Era hora de procurar outro alvo, outra fonte de energia para o seu desamor.
Foi neste ponto que a minha história começou a mudar. Afinal, apesar de tudo, eu ainda era eu: uma mulher que, como todas as outras, sabe que depois da morte o que se segue é o renascimento. O ciclo vida-morte-vida não pode ser quebrado, é eterno. Comecei a me abrir com outras mulheres da minha confiança, em especial aquelas que dominam a arte da ajuda. Uma delas, exímia taróloga, entre muitas coisas, após me atender em sua mesa, me perguntou: você já ouviu falar em narcisismo perverso ou perversão narcísica? “Não sei se é este o seu caso, mas acho que vale a pena pesquisar, Dani...”.
Iniciei então a minha investigação sobre o novo tema, sentindo que a pista estava correta. Para minha total perplexidade, encontrei milhares de ocorrências na internet e descobri que eu não era uma exceção no complexo mundo dos relacionamentos afetivos modernos. Eu fazia parte da regra das relações tóxicas e abusivas, e não sabia. Foi um baque. À medida que eu lia matérias, teses e relatos, afundava na cadeira como se um buraco gelado se abrisse abaixo dos meus pés contraídos. O quebra-cabeças começava a ser montado com a análise de especialistas, entrevistas e testemunhos de centenas de mulheres que, como eu, foram alvos de narcisistas perversos.
Mulheres fortes, com alto nível de instrução, bem sucedidas, bonitas, cheias de vida – este era o perfil de muitas delas. Assim como eu, elas acreditavam que tinham amor suficiente para si e para seus companheiros abusivos, que representavam mais um desafio a ser superado, talvez um pouco mais difícil que os outros, mas nada além disso. É aí que existe o encaixe perfeito e o jogo perde-perde começa. De um lado, alguém disposto a dar tudo. Do outro, alguém determinado a não aceitar nada – o narcisista perverso apenas toma quando lhe convém.
Antes desse episódio, eu achava que narcisistas eram aquelas pessoas apaixonadas por si mesmas e que sempre se acham o máximo. Na minha cabeça, eram aqueles caras super vaidosos, identificados com sua beleza e seu êxito social, sempre rodeados de belas mulheres. Jamais me envolveria com um tipo desses, claro. No entanto, descobri na minha experiência que os narcisistas são pessoas que criam um personagem, se apaixonam por ele e vivem em função de sustentar essa figura fictícia, custe o que custar, a quem custar. Ele pode ser, inclusive, o doente, o fracassado, o perseguido, o azarado, a eterna vítima.
No meu caso, esse personagem era “o triste”. Sobre sua cabeça havia sempre uma nuvem escura, ainda que sob o sol de um dia de verão. Mesmo comigo, com todo meu amor servido em uma grande bandeja de ouro. Nada foi suficiente, nunca. Era como se ele me dissesse com aquele olhar opaco: ainda não é o bastante. “Vamos, se esforce mais! Não fique feliz ainda, por que eu não estou”. Sua tristeza era uma adaga sempre cravada no meu peito.
O narcisista perverso nasce de um trauma com a mãe logo no início da vida. Segundo o que sei, este transtorno de personalidade acomete homens, principalmente. Quando bebê, este sujeito não recebe o amor que precisa de sua progenitora (o que pode acontecer por diversos motivos, voluntários ou não) e partir desta dor, ele cria um personagem que será alimentado por toda a sua vida e que terá como função principal punir o mundo, seu eterno devedor - assim como sua mãe. Ele não cria vínculos afetivos. Ele não é capaz de amar. Ele é doente. E você, mulher, não é capaz de salvá-lo. Você não será a exceção, será o próximo alvo.
Não importa o quê você faça, o quê você dê. Ele vai desprezar, mas vai tirar de você aquilo que lhe é mais precioso e nunca vai entregar o que você mais deseja. Em casos mais graves de narcisismo perverso, que pode chegar à psicopatia, as agressões são verbais e físicas, chegando a morte.
Por mais que a gente tente se enganar, colocando numa balança viciada ao nosso suposto favor os prós e contras desse tipo de relação, que muitas vezes é rotulada como “a dos sonhos”, no fundo toda mulher sabe quando não está sendo amada e não o será. Para algumas, a aceitação desta realidade emerge em poucos dias, para outras custa uma vida. Para mim, a experiência durou cerca de um ano e foram necessários quase nove meses de recuperação. Neste período, recorri a toda ajuda que pude.
Foi um intenso processo de cura que começou com este entendimento racional do tipo de pessoa com a qual eu estava lidando e da relação que eu estava sustentando. Depois veio a parte ainda mais difícil: admitir que eu não era uma vítima e olhar para dentro de mim com total sinceridade pra descobrir que parte minha atraiu um narcisista perverso e, acima de tudo, se sentiu atraída por ele.
É duro admitir que só atraímos aquilo que nos é semelhante e, logo, toda aquela perversidade e perversão se encontrava, em algum nível, dentro de mim mesma. Essa é a verdade, que nunca dói (o que dói é a mentira) e que liberta. Entendi que eu atraí e me senti atraída por uma parte minha que estava sendo negada e que foi representada através deste parceiro que tanto amei de uma maneira super dimensionada para que eu, agora sem saída ou desculpas, pudesse, enfim, reconhecê-la, aceitá-la e curá-la.
Esse é um sofisticado mecanismo da alma para a nossa reintegração e evolução. Quando algo que precisa ser visto e transformado em nós é excluído por conta do nosso autojulgamento, atraímos inconscientemente situações e pessoas que possam representar no palco da vida estes aspectos da nossa própria ignorância, como injustiça, preconceito, inveja, culpa e violência. Tudo não passa de artifício para fazermos o caminho de volta ao amor.
Para fazer este percurso, contei com muito auxílio de todos os tipos. Pessoas, principalmente mulheres, que me ajudaram em processos de limpezas, cortes, cura e reconexão com a minha própria alma. Sem elas, não teria conseguido sair daquele ciclo vicioso de sofrimento, culpa e punição. A partir do autoperdão e da autocompaixão, aquela experiência traumática foi sendo ressignificada e se transformou em uma grande bênção, que permitiu que eu mudasse um padrão de relacionamento criado e cultivado por mim durante muitas vidas.
Aquele homem que em algum momento eu considerei um algoz hoje vejo como um verdadeiro mestre, um ser humano que, como eu, está no seu processo único de evolução e que, no seu próprio tempo, encontrará por si mesmo meios de se curar.
Enquanto escrevo este texto, não existe nenhuma identificação ou reação emocional a essa história. Hoje, toda a dor que vivi foi transformada em força, poder de criação e realização pessoal. Vivo um casamento sagrado, uma relação afetiva absolutamente saudável, ética, leve e bela, como toda parceria deve ser. Uma convivência que me faz bem, me deixa mais cheia de energia e vontade de viver. Não preciso me esforçar para agradar meu companheiro, só preciso ser eu mesma e vice-versa. Isso é amor. Ao contrário do que somos levados a acreditar através de músicas, poemas e filmes, onde há jogo de poder, dor e sofrimento não existe amor. É este o padrão afetivo que precisamos mudar dentro de nós.
Se você leu este texto até aqui, provavelmente se identificou com minha história de alguma forma. Se ainda estiver numa relação com um narcisista perverso, procure ajuda para sair dela, pois sozinha é simplesmente impossível. Há inúmeros recursos para isso. Se conhece uma mulher que esteja nessa situação, compartilhe este artigo, pois pode ser útil para sua autoconscientização. Não a julgue, ela já se sente suficientemente envergonhada e culpada, pode acreditar. Apenas ofereça apoio. A cura de uma mulher é a cura de toda a humanidade.

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